13 de fevereiro de 2007

Dia 19 do Décimo Terceiro Mês

(Episódios Anteriores: Piloto 17 , Hotel Tranquilidade )

Festa da Anti-Véspera de Natal

Num antigo bairro de São Paulo, na 1ª hora do dia 19/13, ante-véspera de Natal, um ronco de motor rompeu o silêncio da rua. Ela olhou em volta com uma sensação de satisfação nas veias. Quanto tempo será que não é usada? 20, 30 anos?
Ela montou na moto e acelerou, o motor engasgou e desligou.
Anh? O que será? ... Eu revisei tudo! Motor... Bateria... ah! Combustível? Onde eu vou arranjar álcool?
Ela parou, se concentrou. Acessou a Rede, procurou por todas as industrias químicas próximas. Nenhuma em funcionamento. Claro, é quase Natal. Talvez mega-stores?. Voltou a procurar, fez o pedido. Olhou em volta e se sentou na calçada enquanto esperava.
Um vento úmido salpicou seu rosto. Ela olhou em volta e viu as ruas ainda molhadas. O céu já estava limpo e negro, com incontáveis estrelas a mostra. Ela se lembrou do fim do ano anterior quando viu pela primeira vez o céu azul-claro escurecer em segundos e crescer enquanto a Terra logo atrás ficava menor. Foi a primeira vez que ela pilotava uma orbital. Nesse ano não terminou a última prova da temporada por um risco ínfimo de saúde. Droga!
A iluminação da rua aumentou quando um carro chegou e o entregador desceu.
Ela o saudou e recebeu um plástico transparente com 4 litros de etanol. Ela percebeu que ele estava acessando a Rede e não prestava muita atenção ao mundo real. Ele a cumprimentou e saiu.
A iluminação da rua seguiu o carro e desapareceu um instante depois, enquanto ela enchia o tanque da moto. Mãe! Valeu! Adorei a Moto! Feita em 2010! Eles vão morrer de inveja! Haha!
Dessa vez o ronco do motor soou alto e permaneceu. Correr daquela forma era tão emocionante quanto o primeiro voo, mesmo numa velocidade tão pequena. 70km/h... 90! uhu!
Ela demorou 20 minutos até o portão da casa de Lucia, que já esperava na porta.
Ao redor as casas pareciam vazias e silenciosas, as pessoas -nas últimas décadas- não costumavam sair, eram mais introspectivas e reservadas, viviam a vida dentro da Rede, um sistema mundial de informação que ligava 9,7 bilhões de mentes humanas (e algumas não-humanas) em centenas de mundos virtuais e 'bibliotecas' onde habilidades comuns podem ser baixadas e instaladas sem dificuldades. Na Rede também se pode comprar conhecimentos raros ou pensamentos abstratos que 70 anos antes seriam a origem de obras de arte ou entretenimento. Ou simplesmente receber informação de qualquer tipo. Algumas pessoas não se encaixavam nesse padrão.
Ambas se cumprimentaram e Lucia subiu na moto. Ela achou estranho um transporte movido a explosão, algo nostalgico e emocionante. Elas seguiram até a porta do prédio onde, no 8º andar as luzes estavam ligadas. O prédio era todo transparente, chamava-se Torre de Vidro, situada na Avenida Paulista, era uma construção recente contrastando com tantos prédios históricos.
Como Maya previrá, Arjen adorou o presente que ela ganhou.
...

Na tarde seguinte o Conselho da Terra divulgou a construção de duas "Pirâmides de Transferência" nas órbitas da Terra e de Marte. Isso seria a concretização de mais de 1 século ficção-científica e o primeiro passo para o estudo próximo de planetas fora do Sistema Solar.
Nenhum dos amigos de Arjen ouviu em primeira mão a notícia, todos dormiam, com excessão da Piloto 0, que estava observando as nuvens no topo do prédio - ela tinha um pressentimento inédito, e o estava sentindo desde que chegou a Terra - e Maya, que estava lendo o Manual da Proprietário da Moto em papel de celulose, algo que ela achou que nem existisse mais fora dos museus - ela sabia que isso era praticamente inútil, mas cada página deixava-a mais empolgada e ela só não saia para correr um pouco porque tinha bebido e estava quase sendo derrubada pelo sono. Por fim Maya dormiu, já passavam das 14h.

Aos poucos eles acordaram na véspera de Natal e cada um foi passar o fim do dia e a Noite com suas respectivas famílias ou amigos, Arjen não foi excessão. Maya e Lucia foram para casa de Lucia onde as duas famílias iriam festejar juntas. A Piloto 0 visitou o pai aquela noite. Foi um Natal comum e agradável para os 4.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lembrei-me do chocolate, e vim a seu blog...

^^

Não preciso mais me identificar, meu 'serial' foi encaminhado junto com meus dados do post.

Provavelmente você saberá de onde acessei, a não ser que eu 'entre' no sistema e apague tudo manualmente pelo mecanismo de realidade virtual, mas eu posso sofrer algumas lesões cerebrais com eles. Seja por descargas elétricas provenientes do sistema de energia elétrica atual, derivado da luz, onde qualquer oscilação a mais provoca uma descarga (um raio à noite é bem cruel; e o melhor mecanismo de energia, pois trabalha com emissão de lúmens e com energia elétrica reaproveitada). Ou, também, por descargas elétricas advindas do meu próprio organismo que reaje a coisas que sequer existem. Não para mim; elas existem sim!

A Rede foi, de fato, a solução para minha vida. Eu era o solvente, o computador, o soluto; formamos, juntos a Rede. Agora integramos a ela. Inicialmente, éramos tão necessários a ela quanto ela era para nós. Mas ela se libertou do 'vício'. Ou do maldito script que eu havia criado para isso.

Bem, eu preciso dela. E por ela vim a seu blog. Confesso que gostaria eu de ler algum livro, pois minhas lentes antilúmens quebraram, então sofro a irradiação do monitor. Isso provavelmente dar-me-á miopia. =(

Talvez você veja smileys como caracteres, mas eu, adepto da Rede, os vejo como sorrisos. Belos sorrisos, tão belos quanto a emoção das pessoas que escrevem.

Por um acaso você tem uma caneta esferográfica? Ela se tornou uma raridade. Eu procurava por uma, porque algum DoomScripter pode invadir a Rede de novo e controlar as armas nucleares e, finalmente, chegar a lançá-las, quero eu ter canetas, pois nosso atual sistema de energia ruirá (haja visto sua produtividade ser inversamente proporcional à sua resistência). Diria que este foi o preço do progresso.

A vida perdeu um tanto o sentido. As pessoas têm mais contato virtualmente do que realmente. Não existe mais aquele calor humano.
Todos nós seríamos extremamente obesos se nos submetêssemos à alimentação antiga, aquela da comida da vovó, suculenta, bem temperada, com calorias... Agora só tomamos pílulas, esses milagres contém tudo o que necessitamos de nutrientes para viver e uma taxa pequena de energia e de um componente, cujo nome não lembro, que dá a sensação de satisfação.

Queria, também, ter o prazer de mandar uma carta. Mas o Correio foi extinto. Agora é só dinheiro virtual e a entrega é feita por terceiros. Se não se recordas, ele acabou com toda aquela corrupção e crises no governo. O órgão que ainda cuidava parte de comunicação, herdada dos Correios, também faliu. Por causas estruturais.

Faz tempo que não como um chocolate, lembrei-me daquele dia, em 2005, que foi realizado o campeonato de Xadrez! Nossa, nós jogávamos com peças de madeira! Madeira nem existe mais, todas as árvores foram substituídas por usinas carbônicas... Assim resolveu-se o problema do aquecimento global.

Bem caro amigo, até algum dia...

Camila da Mata disse...

Confesso que a idéia de ter tudo simples assim me deixaria um tanto frustrada...


Seja em voando,em motocicletas aos 70 km/h ou correndo na rua...^^
Realmente muito divertido...